20/02/2009
por Josias de Souza
(Apenas para comentar)
Na sexta-feira (20), o Senado completou 18 dias de absoluta improdutividade. Nada foi votado no plenário. Nenhuma das 11 comissões se reuniu.
Os senadores voltaram do recesso de final de ano em 2 de fevereiro. Nesse dia, elegeu-se José Sarney (PMDB-AP) para a presidência da Casa. E foi só.
A maioria dos senadores deixou Brasília entre quarta (18) e quinta (19). O expediente parlamentar só será retomado depois do Carnaval, em 3 de março.
A despeito da inatividade, os 81 senadores receberão o salário do mês: R$ 16,5 mil por cabeça. Ou R$ 1,336 milhão no total.
Considerando-se que, além do contracheque, há a verba indenizatória de R$ 15 mil, a Viúva vai gastar R$ 2,551 milhões para remunerar o nada.
“Se tivéssemos esticado o recesso, teríamos feito papel menos constrangedor”, disse, na última quarta, um resignado Osmar Dias (PR), líder do PDT.
“Só não digo que antecipamos o Carnaval porque o ambiente aqui combina mais com o de um velório”, ecoou, no dia seguinte, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB.
Deve-se a paralisia do Senado a um rol de encrencas fomentadas por Renan Calheiros (AL), líder do PMDB.
Para colecionar os votos que permitiram a Sarney prevalecer sobre o rival Tião Viana (PT-AC), Renan vendeu terrenos na Lua, como se diz.
Prometeu a diferentes partidos cargos na Mesa diretora e nas comissões. O problema é que levou à gôndola das negociações subterrâneas mercadoria alheia.
Tradicionalmente, os cargos no Legislativo são distribuídos segundo o critério da proporcionalidade. Quanto maiores as bancada, melhores as posições.
Entre outras tratativas, Renan prometera ao PR uma secretaria na Mesa que cabe ao PDT. Comprometeu-se a instalar o PTB numa comissão que pertence ao PSDB.
A resolução do quiproquó da Mesa consumiu uma semana. O PDT ficou com a secretaria. O PR teve de contentar-se com uma suplência.
Suplência que pertencia ao PT, que já a havia cedido ao PRB, que ficou a ver navios.
No front das comissões, a guerra foi inaugurada na de Relações Exteriores. Foi às manchetes na forma de um cabo-de-guerra entre Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Fernando Collor (PTB-AL).
Ao perceber que Renan o metera numa roubada, Collor desistiu de medir forças com Azeredo. E passou a mirar a comissão de Infra-Estrutura.
Uma comissão que, pela proporção das bancadas, pertence ao PT, que indicara Ideli Salvatti (SC), que disputava o posto com Valdir Raupp (PMDB-RO).
Um Raupp que acabou sendo triturado por Renan, que empurrou Collor para a briga com a petista Ideli. Em meio ao furdunço, os líderes cobraram a mediação de Sarney, que preferiu fingir-se de morto.
Durante todo o mês de fevereiro, Sarney simulou normalidade. Abriu as sessões plenárias pontualmente às 16h. E repetiu uma pantomima imutável.
Anunciava a abertura da “ordem do dia”, como os senadores se referem à lista de projetos pendentes de votação. Declarava a falta de quorum.
E, minutos depois de tê-la aberto, dava por encerrada a “ordem do dia”, franqueando os microfones para a discurseira dos senadores inscritos para ocupar a tribuna.
Assim foi consumido todo o mês de fevereiro. Que terminou sem um acordo entre o PT de Ideli e o PTB de Collor.
Essa e outras brigas foram adiadas para depois do Carnaval. Uma fase em que a conta bancária dos senadores já estará forrada com os vencimentos obtidos na folia pré-carnavalesca.
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