quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Com "O Bem Amado", Guel Arraes reforça cinema popular brasileiro


LUIZ FERNANDO VIANNA
da Sucursal do Rio

Enquanto "Se Eu Fosse Você 2" se aproxima dos 5 milhões de espectadores, mais um candidato a sucesso nacional de 2009 está em gestação. O filme "O Bem Amado", que deve estrear entre outubro e dezembro, tem ingredientes comuns a outros projetos do atual cinema popular brasileiro.

O orçamento é alto para os nossos padrões (R$ 9,8 milhões); a Globo Filmes e Paula Lavigne participam da produção; a direção é de Guel Arraes ("Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro") e a história já é conhecida do público por meio da TV Globo, canal em que a peça de Dias Gomes virou novela e seriado nos anos 70 e 80, respectivamente.

A receita costuma torcer narizes diversos. Guel defende a vereda popular com ênfase.

"Ela é fundamental para o cinema brasileiro continuar. Não se pode achar que esse é o único tipo de cinema que se deve ter, mas ter implicância com ele é um suicídio. Deveriam ter mais diretores e autores preocupados em fazer esse tipo de coisa, senão vai acabar. Não vai ficar fazendo 60 filmes por ano para dar menos do que uma peça de teatro cada um", diz.

Ele aponta como positivo o fato de não haver mais só filmes infantis entre as maiores bilheterias nacionais. "Hoje, a gente tem um leque de cinema popular mais interessante. Houve um desenvolvimento pouco percebido pela crítica. A crítica trata os filmes populares como se eles fossem a mesma merda desde sempre. Enquanto, talvez, o desenvolvimento do cinema experimental brasileiro não tenha sido tão interessante como foi nos anos 60, 70."

Paula Lavigne almeja cerca de 2,5 milhões de espectadores para "O Bem Amado" e vê melhores condições para a existência de boas bilheterias nacionais. "Só espero que não venha nos reprimindo a neurose contra as pessoas que querem fazer filmes comerciais", diz.

Outra Sucupira

O roteiro de Guel e Cláudio Paiva tem diferenças em relação às versões da TV, feitas pelo Dias Gomes. A história se passa entre 1961 e 64, numa Sucupira não necessariamente nordestina, há personagens novos, e as beatas irmãs Cajazeiras (Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa) viram peruas pioneiras. Matheus Nachtergaele vive Dirceu Borboleta.

Odorico Paraguaçu (Marco Nanini, que fez o papel no teatro) continua um político corrupto e reacionário, mas não mais um coronel de sotaque.

"O ridículo dele é menos ser um coronel atrasado do que ser um bacharel empolado. Ele usa casaca, é um cara urbano que assimilou mal a cultura", diz Guel, que preservou o sotaque de Zeca Diabo (José Wilker). "Na mitologia do Dias, o Zeca é a justiça bruta do povo, o justiceiro sem consciência social. Ele é meio arcaico mesmo", afirma o diretor.

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