segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Gasolina é 60% mais cara no Brasil do que no resto do mundo

Petrobras mantém preços inalterados mesmo após o petróleo ter caído 75%. Especialistas dizem que estatal precisa recuperar perdas acumuladas no período de commodities em alta e fazer caixa para investimentos

Publicado em 16/01/2009 | Rio de Janeiro - Agência Estado

O preço da gasolina no Brasil está quase 60% acima das cotações internacionais. No caso do diesel, a diferença passa dos 30%. Os números são de especialistas no mercado energético. Esse fosso entre o que consumidores de outros países pagam para abastecer o carro e o valor dos combustíveis no mercado brasileiro aumentou muito nos últimos meses, com a crise econômica mundial derrubando o preço das commodities. O barril de petróleo, que atingiu os US$ 147 em julho do ano passado, terminou o pregão de ontem cotado a US$ 35 – um recuo de mais de 75% em seis meses.
Ainda assim, nenhum dos analistas acredita que a Petrobras vá promover ajustes agora, uma vez que a empresa ainda não recuperou as perdas por ter mantido os preços inalterados em tempos de petróleo caro. Além disso, a companhia precisa gerar caixa para sustentar seu plano de investimentos, considerado pelo governo um dos principais remédios contra a crise financeira.
A conta a respeito da diferença de preços da gasolina e do óleo diesel varia entre os analistas. Para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a gasolina brasileira está hoje 50% mais cara do que a cotação americana, usada como referência pela estatal. Já o diesel está 30% mais caro. Nelson Rodrigues de Mattos, do Banco do Brasil Investimentos (BBI), calcula a diferença em 59% para a gasolina e 40% para o diesel. “O Brasil é o único país que, em meio à crise, não baixou juros nem preço da gasolina”, comenta Pires.
Congelamento
Quando a Petrobras promoveu o último aumento de preços, em maio do ano passado, o barril rondava os US$ 110 por barril. A empresa alega que não repassou ao consumidor a alta do segundo trimestre de 2008. Além disso, manteve os mesmos preços da gasolina e do diesel entre setembro de 2005 e maio de 2008. “Neste mesmo período, o preço do petróleo passou de US$ 65 por barril para US$ 115/barril e a Petrobras suportou esta defasagem, para não impactar o consumidor brasileiro. O último reajuste foi de 10% para a gasolina e de 12% para o diesel, enquanto o preço do petróleo quase dobrou”, afirmou a companhia, por meio de nota.
Mattos, da BBI, calcula que a companhia ainda tenha R$ 1,5 bilhão a recuperar em perdas referentes aos tempos de petróleo alto. Por isso, ele acredita em possibilidade de reajustes apenas a partir de abril. Luiz Otávio Broad, da corretora Ágora, vai além: para ele, reajustes apenas no segundo semestre. “Não dá também para baixar muito os preços, já que a empresa tem que fazer pesados investimentos”, aponta Broad.
Investimentos
A geração de caixa para investimentos é ponto central da questão, dizem os especialistas. Pires lembra que gasolina e diesel representam cerca de 60% da receita da companhia e o consumo tende a cair por conta da crise financeira. Ou seja, uma redução significativa de preços teria grande impacto no caixa. Em relatório, o analista Emerson Leite, do Credit Suisse, calcula que, com os preços atuais, a Petrobras já deve ter um déficit de US$ 8,5 bilhões em seu orçamento, considerando investimentos de US$ 22,8 bilhões este ano.
Tal volume pode ser captado no mercado financeiro, mas é fato que em tempos de crédito escasso e caro, quanto maior a geração de caixa, melhor. Até porque, lembra Mattos, a inflação não chega a ser um problema neste momento, o que reduz a pressão pela redução de preços dos combustíveis – a gasolina é o item de maior peso no IPCA. Pires diz, porém, que pode surgir algum tipo de movimento pedindo redução no preço do diesel, importante fator de custo para indústria e agronegócio.
Comissão vai apresentar a Lula 5 opções
A comissão interministerial que estuda qual deverá ser o marco legal para a exploração da camada do pré-sal deverá apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cinco opções de propostas listadas por ordem de importância. Ou seja, apesar de não cravar um modelo único, deixando a decisão final para o presidente, o relatório destacará as alternativas que o grupo considera menos ou mais interessantes. As cinco opções deverão ser variações de três propostas básicas: a de se estabelecer o regime de partilha; um sistema de prestação de serviço; ou a manutenção do atual modelo de concessão, mas com aumento das alíquotas de royalties e da chamada Participação Especial – taxa cobrada de campos mais rentáveis. Apenas neste último caso o novo regime dispensa tramitação no Congresso. Para implantar os outros dois é necessário mudança na Lei do Petróleo.

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