quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Não são as mãos, é o cérebro

The New York Times

17.01.09

Novos estudos confirmam que direção e telefone não combinam, nem com os aparelhos de viva-voz, que permitem manter as mãos no volante

Em quase todos os países é ilegal falar no celular enquanto se dirige. Mas os aparelhos do tipo viva-voz, que permitem manter as mãos no volante, são liberados. A suposição é que os motoristas se distraem tentando segurar o telefone em uma das mãos e dirigir com a outra. Porém, um número crescente de estudos tem mostrado que o viva-voz no carro é tão perigoso como os outros celulares.

– O problema não é o fato de as mãos não estarem no volante. É o cérebro não estar na estrada – diz David Strayer, diretor do Laboratório de Cognição Aplicada do Universidade de Utah (EUA) e autor de uma pesquisa sobre os riscos de misturar celular e direção.

Testes com simuladores em laboratório, estudos em estradas reais e estatísticas de trânsito dizem a mesma coisa: quem dirige falando no celular tem quatro vezes mais chance de se envolver em um acidente – um risco idêntico ao de dirigir embriagado. Ainda não está claro por que essa combinação é tão perigosa, mas os estudos sugerem que conversar ao telefone – seja celular, fixo ou viva-voz – exige muita destreza visual por parte do cérebro.

Testes feitos na Universidade Carnegie Mellon (EUA) revelaram que os motoristas conseguem prestar atenção no rádio do carro, ou mesmo conversar com o passageiro no banco ao lado, sem comprometer as habilidades ao volante. Quando se fala ao telefone, porém, o cérebro passa a criar imagens mentais que entram em conflito com a percepção espacial necessária para dirigir.

Estudos sobre o movimento dos olhos feitos pela equipe de Strayer mostraram que o ato de dirigir faz a pessoa olhar instintiva e continuamente para os lados. Quando estamos ao telefone, ocorre o oposto: a tendência é olharmos fixamente para um ponto à frente. Com a distração, o cérebro não processa boa parte da informação visual que recebe, o que reduz o tempo de reação a um imprevisto.

– Há uma percepção muito equivocada de que é seguro falar ao telefone se as mãos estiverem livres – diz Janet Froetscher, presidente do Conselho Nacional de Segurança, organização não-governamental que emplacou nos EUA as leis que tornaram obrigatório o uso do cinto de segurança e a proibição de dirigir sob influência do álcool, e que agora quer banir totalmente os celulares (e os aparelhos de viva-voz) ao volante.

Apesar da impressionante quantidade de evidências, a ideia de proibir os celulares no carro é controversa, reconhece Janet. Mas ela insiste:

– As pessoas simplesmente não querem abrir mão do hábito. É o mesmo desafio que tivemos com o cinto de segurança e o álcool. Até pouco tempo atrás, não gostávamos de usar o cinto, e não nos preocupávamos em dirigir depois de beber. Hoje, não pensamos mais em fazer isso. É uma questão de educar, de fazer as pes­soas entenderem que falar ao telefone e dirigir é um comportamento de risco.

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