quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A política brasileira na mira de José Padilha

26.01.09
(do direto da fonte)

Crise econômica, pirataria, queda de público nos cinemas. Nada parece abalar o fôlego criativo do diretor José Padilha. Sua agenda a curto, médio e longo prazo está cheia; o lançamento do documentário Garapa no Festival de Berlim, o aguardado Tropa de Elite 2, além de diversas parcerias internacionais.

O diretor adianta, ainda, que seu próximo longa de ficção, Nunca Antes na História Deste País, pretende fazer com os políticos brasileiros algo semelhante ao que Tropa de Elite fez com a polícia - uma profunda análise, levando em conta o jogo de forças e as complexidades dessa instituição pública.

A expectativa é que o filme seja lançado pouco antes da eleição presidencial, “para as pessoas saberem em quem estão votando”, afirmou o cineasta. A seguir, trechos da conversa do diretor com a coluna.

Vocês vão fazer um raio-x das instituições políticas?
Investigamos quem são os políticos, qual é o jogo deles para se eleger, que tipo de aliança se faz, como se financiam as campanhas e no que esse financiamento implica depois de uma eleição.
Vamos olhar para situações semelhantes à do mensalão, por exemplo - embora não seja um filme sobre o mensalão e nem só sobre o governo Lula. É sobre a política no Brasil, em todos os governos e em todas as instâncias. Estamos pesquisando esse processo que se repete em todos os níveis de administração do Brasil e que, na minha opinião, acaba por moldar o que acontece no País.

Mas já dá para sentir os efeitos da crise? Qual o impacto disso no cinema?
É óbvio que a crise vai afetar o cinema. A grande maioria de cineastas faz cinema com dificuldade. O cinema brasileiro tem um problema que lhe é inerente: é financiado por meio de uma lei que depende do lucro das empresas. E essas empresas não vão ter o mesmo lucro do ano passado. Pode ser que haja público, mas haverá menos filmes.

Como o olhar de um cineasta reage ao que está acontecendo em Gaza?
Estou trancado em uma ilha de edição dez horas por dia. E, portanto, qualquer opinião que eu der sobre esse assunto será superficial. Porque nunca parei para estudar e entender a questão de Israel e Palestina. Não me parece que o que acontece entre judeus e palestinos seja muito racional. Existem motivações religiosas no meio dessa guerra, e a religião tende a ser inimiga da razão. É uma pena.

Por que lançar o Garapa em Berlim?
Porque Berlim é um festival que tem tradição de gerar debates. E esse filme possui essa característica, porque lida com um problema mundial, a fome. Se você avaliar os números da ONU, vai ver que o número de pessoas que passam fome no mundo aumentou muito no ano passado - saiu de 800 milhões para 920 milhões - por causa do preço dos alimentos. Só isso já é uma enorme questão política: o preço dos alimentos, os subsídios da agricultura, etc. Depois, tem toda essa história do Brasil, do Bolsa-Família. Todos esses elementos que permeiam o filme me fazem pensar que Berlim é um lugar bom para lançar.

E o que você acha dessa nova denominação, “Favela Movie”?
Os críticos de cinema e os realizadores dividem os filmes nessas categorias. A questão é se essa categoria gera um tipo especial de entendimento sobre o cinema que é produzido no Brasil. No Brasil, muitos filmes são feitos no ambiente de favela, mas isso não cria um gênero de cinema. Pode ser um romance, um thriller ou um drama que se passa na favela.

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